Acontece!
[Toca o telefone]
Sente um frio na barriga, assustadoramente familiar. “Mas uma voz estranha não deveria causar tanto nervosismo”, pensou ele. Bom, tanto ela causou que foi apavorante a maneira como disse um simples “alô”. A conversa tem muitas pausas. Estão nervosos. Ainda não se encontraram e esse se torna o primeiro passo para dar início a um provável relacionamento.
-cinco meses depois-
[Toca o telefone]
Falam-se por 50 minutos a cada ligação, no mínino. Estão em sintonia. A conversa é sempre boa, o assunto nunca morre. Pensam que têm algo em comum em suas vidas. Estão felizes. Acham que se conhecem muito bem. A relação está cada dia melhor, “estamos numa fase de amadurecimento”, dizem eles.
-dez meses depois-
[Toca o telefone]
A conversa acaba sendo rápida. Encontra uma forma de terminar mais depressa a conversa, diz que precisa fazer uns favores pra mãe e que está de saída. Pede pra ligar mais tarde. Ele se sente mal ao fazer isso, foi a primeira vez, mas imagina isso como um estresse momentâneo, nada mais grave. Pela noite, ele mesmo liga. Desculpa-se por não ter dado atenção devida naquela hora. Fica, então, tudo subjetivamente entendido.
-quinze meses depois-
[Toca o telefone]
A conversa não é das melhores. Na noite passada ele resolveu não atender ao telefone e nem procurou desculpas coerentes para isso. Disse apenas que não estava em casa, saiu com amigos e esqueceu o celular no carro de um deles. As coisas não ficam resolvidas. Deixa muitas interrogações a respeito dessa saída. Marcam de se encontrar e falar sobre isso pessoalmente.
-dezoito meses depois -
[Toca o telefone]
– Alô, quem fala?
– Gostaria de falar com quem?
– Com o Victor, por favor!
– Aqui não é mais o número dele.
– Ah, desculpa!